Minha História com o Álcool
- Marcelo Loureiro
- 13 de fev.
- 4 min de leitura

E aí, bebeu nessa virada de ano e férias? Eu bebi, me diverti, mas também me lembrei por que eu não gosto mais de beber. Fico estragado nos dias seguintes, e simplesmente não combina mais com o que eu quero de fato para minha vida.
Eu comecei a beber ‘tarde’, por volta dos 20 anos. Na época, eu lutava boxe e jogava futebol — essas eram as minhas prioridades. Mas, com o tempo, no final dos anos 80 e início dos 90, o álcool era parte da sociedade, uma forma de desinibir e de socializar, e acabou fazendo parte da minha vida por quase duas décadas. Fui dono de bar, restaurante e balada (Cabral, Sirena, Japengo), e inclusive me mudei para a Califórnia para vender cachaça para gringos (Sagatiba). Foi justamente nessa época, aos 40 anos, que o álcool parou de fazer sentido para
mim. O que poderia ser o trabalho mais divertido do mundo — ir a bares, clubs,
restaurantes e hotéis na Califórnia promovendo festas — talvez tivesse sido incrível
aos 25 anos. Mas aos 40, eu já não via mais graça. Vendemos a Sagatiba em 2011, e
a partir dali eu fui reduzindo cada vez mais o consumo de álcool. Nos últimos
cinco anos, praticamente zerei meu consumo. Não quer dizer que eu não beba
mais, mas prero não beber à toa. Ainda assim, se surgir uma ocasião legal que eu
ache que valha a pena, eu não vejo problema em tomar umas.
O problema é que, hoje em dia, parece que todo dia tem uma desculpa para
beber. Tem o jantar de negócios, o happy hour com os amigos, o aniversário de
alguém, o “sextou”, o “sabadou”, o churrascão... E quando você percebe, está
dizendo: “Eu bebo com moderação, só de quinta a domingo.” Tudo bem, mas se
você beber três vezes por semana, são 156 dias no ano — ou seja, um terço do ano
bebendo. Agora multiplica isso por décadas. Em uma década, são 3,3 anos
bebendo.
Mesmo que você seja forte e o consumo de álcool não te deixe ‘estragado’ no dia
seguinte, nos dias de hoje cada vez mais está claro que o álcool é prejudicial a
saúde, e provavelmente as pessoas que podem sofrer as maiores consequências
são justamente as fortes, pois elas nao sentem o efeito negativo de imediato
como eu. Veja aqui uma matéria que saiu agora em janeiro em todos canais de
comunicação globais do cirurgião geral dos Estados Unidos alertando sobre a
relação entre o câncer e o consumo de álcool:
Ok, está claro que o consumo de álcool traz riscos como dependência, violência e
impactos na saúde pública. Mas também não se pode negar o contexto histórico
dos tempos antigos onde o álcool era usado em cerimônias religiosas e rituais
espirituais, como o vinho no cristianismo e judaísmo. Em muitas culturas,
compartilhar uma bebida simboliza hospitalidade, amizade e conança Ou seja o
álcool sempre teve um papel ambivalente na história da humanidade, ele pode
ser visto como conector social, impulsionador da criatividade, mas também como
fator de risco para saúde e fator de descontrole.
Cabe a você usar da melhor forma possível, seja não usando ou usando quando
fizer sentido.
A cultura do bem-estar está moldando produtos e serviços de forma concreta, refletindo uma mudança real nos hábitos de consumo. Algumas das tendências mais evidentes incluem:
Explosão das bebidas sem álcool: O mercado global de bebidas não alcoólicas e de baixo teor alcoólico cresceu mais de 20% nos últimos anos, com marcas como Athletic Brewing Co. e Seedlip conquistando espaço nos bares e supermercados. Até grandes players como Heineken 0.0 e Guinness 0.0 estão surfando essa onda, enquanto bares especializados como o Listen Bar em Nova York provam que o social não depende do álcool.
Saunas e banhos de gelo se tornam mainstream: Espaços como Othership (Canadá e US), Remedy Place (EUA) e Banya No.1 (Londres) mostram o boom das experiências de recuperação. Antes vistas como nicho, essas práticas agora fazem parte da rotina de atletas e empreendedores em busca de alta performance.
Athleisure dominando o mercado de moda: Marcas como Lululemon, Vuori e Alo Yoga cresceram mais de 30% ao ano, tornando roupas confortáveis e funcionais o novo dress code, não só para a academia, mas para o dia a dia e até para o trabalho. A fusão de estilo e performance reflete um estilo de vida onde saúde e estética caminham juntas.
Academias que vão além do treino: Locais como Love.Life , ou redes como Hone Health, Monarch Clubs e até grandes players como Equinox oferecem não apenas musculação, mas acompanhamento com nutricionistas, médicos e fisioterapeutas, integrando treinamento físico à saúde metabólica e longevidade.
Fechamento de nightclubs e o boom dos coffee clubs: Com o declínio de casas noturnas em cidades como Londres, Berlim e Nova York, uma nova cultura emerge: coffee shops com DJs e pista de dança matinal. Locais como Daybreaker e Morning Gloryville promovem festas de manhã cedo, sem álcool, com foco em energia positiva e bem-estar.
Essas mudanças mostram que não se trata apenas de uma tendência passageira, mas de uma transformação estrutural na forma como as pessoas querem viver. O entretenimento, o consumo e até a moda estão sendo redefinidos por uma geração que busca longevidade com qualidade.
Enquanto isso na meia idade a coisa está um pouco mais complicada :
Veja este artigo do The New York Times: "O álcool traz novos riscos na meia-idade - Pessoas com mais de 35 anos podem experimentar efeitos físicos diferentes dos mais jovens ao beber." Se preferir, confira um resumo em português com os principais pontos do artigo.
Compartilho também um artigo do The Economist, "Por que as pessoas com mais de 55 anos são a nova geração problemática". Se preferir, também preparei um resumo em português com os principais pontos do artigo.